A Nova Reforma Tributária e o Futuro dos Provedores Regionais

Por Pedro Reinaldo, Administrador de Empresas e Co-Fundador da LOViZ Telecom

Introdução

O Brasil está passando pela maior transformação fiscal das últimas décadas.
A Reforma Tributária, aprovada em 2024 e com transição prevista até 2033, promete simplificar o sistema de impostos e tornar a economia mais competitiva.

Mas toda simplificação tem um custo — e para os provedores regionais de Internet, que já convivem com margens apertadas, alta carga tributária e obrigações complexas, os impactos serão profundos.

Como empreendedor e gestor no setor de telecom, vejo com clareza que essa mudança exigirá planejamento estratégico, revisão de preços e modernização da gestão contábil e fiscal.

O que muda?

A reforma substitui cinco tributos atuais — ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI — por dois novos:

  • IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), de competência estadual e municipal;
  • CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), de competência federal.

Ambos terão crédito financeiro pleno, ou seja, o imposto pago na etapa anterior pode ser abatido na etapa seguinte — eliminando o efeito cascata, um dos maiores problemas do sistema atual.

Antes e Depois: o impacto sobre a carga tributária

Situação atual (modelo 2024)

No cenário atual, um provedor regional paga aproximadamente:

ImpostoAlíquota MédiaObservações
ICMS25%Serviço de comunicação (varia por estado)
PIS1,65%Sobre faturamento
COFINS7,6%Sobre faturamento
ISS2% a 5%Em serviços complementares
Carga efetiva total33% a 38%Dependendo da localidade e regime

Esse percentual pode variar, mas representa o peso médio sobre o faturamento bruto das pequenas e médias operadoras regionais.

Situação pós-reforma (modelo previsto)

Com a adoção do IBS + CBS, o governo prevê uma alíquota total de referência entre 25% e 27%, aplicável de forma uniforme sobre bens e serviços.

Porém, como o setor de telecomunicações é classificado como serviço essencial de comunicação (de alta elasticidade fiscal), o impacto dependerá da calibragem final dos estados e municípios.
Estudos da Abrint e da Anatel indicam que, durante a fase de transição, a carga efetiva pode subir temporariamente entre 2 e 5 pontos percentuais, até que os créditos fiscais se tornem integralmente compensáveis.

Exemplo prático

Suponha uma empresa regional com faturamento mensal de R$ 100.000.

CenárioCarga Tributária (%)Valor de Tributos (R$)
Modelo atual (ICMS + PIS/COFINS/ISS)34%R$ 34.000
Modelo novo (IBS + CBS estimados em 26%)26%R$ 26.000
Diferença esperada após compensações-8.000redução potencial de 8%

Contudo, na fase de transição, pode ocorrer dupla incidência parcial, o que levaria a uma carga momentânea próxima de 30%, até o completo desligamento do sistema antigo.

Os riscos no curto prazo

  1. Perda de incentivos estaduais e municipais
    Muitos provedores em cidades pequenas se beneficiam de reduções de ICMS, isenções de ISS ou créditos presumidos.
    Com o IBS unificando tributos, esses benefícios podem ser revistos ou extintos.
  2. Necessidade de atualização de sistemas fiscais e ERPs
    As notas fiscais eletrônicas precisarão se adaptar às novas bases, exigindo integração e automação contábil.
  3. Possível aumento temporário de custos
    Durante a transição, a cumulatividade parcial entre os sistemas antigo e novo pode gerar elevação temporária da carga tributária.

Oportunidades no médio prazo

Apesar dos desafios, a reforma traz grandes oportunidades de eficiência.

Com o crédito financeiro pleno, empresas prestadoras de serviço — como os ISPs — poderão recuperar tributos pagos na compra de equipamentos, torres, cabos e serviços de terceiros, algo que hoje é praticamente impossível.

Isso significa melhor gestão de fluxo de caixa e margens mais sustentáveis no longo prazo.

Além disso, a uniformização nacional das regras tende a reduzir a guerra fiscal entre estados e simplificar a expansão para novas regiões — um ponto crucial para provedores que querem crescer para cidades vizinhas.

O papel da gestão moderna

Mais do que nunca, será essencial transformar a gestão fiscal em inteligência estratégica.

Na LOViZ, estamos implementando sistemas de automação contábil integrados a IA, que analisam o impacto tributário de cada plano e serviço em tempo real, antecipando cenários de preço e margem.

Essa é a nova fronteira da competitividade: usar tecnologia para decifrar a complexidade tributária antes que ela nos engula.

Conclusão

A Reforma Tributária não é apenas uma mudança legal — é um teste de maturidade para o setor de telecom regional.
Os provedores que se anteciparem, revisarem sua estrutura contábil e adotarem automação fiscal inteligente sairão na frente.

Aqueles que resistirem, esperando “ver o que acontece”, correm o risco de perder competitividade em um mercado cada vez mais profissionalizado.

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